Obeso saudável, será?
Existe um ponto de vista esquecido na definição de obesidade saudável, e ele é bem importante.
Obesidade saudável é como se denomina o obeso que não tem alterações laboratoriais metabólicas significativas. Embora na maioria dos casos os alegados “obesos saudáveis” somente não fizeram os exames certos, é verdade que existe uma pequena parcela de pessoas com um alto limiar pessoal de gordura, o que lhes permite ganhar muito peso sem repercussão metabólica.
O limiar pessoal de gordura é a capacidade que as células do tecido adiposo (adipócitos) tem de acumular gordura sem que ela cause sobrecarga ao metabolismo. Existe ampla variação interpessoal deste parâmetro. Em alguns casos, os pacientes chegam a pesar mais de 100 quilos sem qualquer alteração laboratorial.
Isso é positivo, do ponto de vista do risco cardiovascular. Esses pacientes, obesos mas metabolicamente saudáveis, não tem o mesmo risco de infarto e derrame que um paciente obeso com alterações de insulina, glicose, colesterol, triglicerídeos ou marcadores inflamatórios tem. Pela ausência da resistência a insulina, também não parece ocorrer um aumento de risco de doenças neoplásicas (câncer) e autoimunes, como no obeso metabolicamente doente.
Isso diminui o risco de vida, concordo! Mas existe um grande porém, a intenção é acrescentar anos à vida, ou vida aos anos?
Outro aspecto menos discutido da obesidade são as complicações ortopédicas, decorrentes da sobrecarga de estruturas que não conseguem se adaptar ao excesso de peso. Embora exista uma hipertrofia compensatória da musculatura do indivíduo obeso; tendões, ligamentos e articulações não são capazes de se reforçar da mesma forma.
Por isso as doenças mais prevalentes no idoso obeso são as artrites e artroses, de quadril, joelho e tornozelo, bem como as alterações degenerativas de coluna. Essas são doenças que causam um impacto pequeno no risco de morte, mas que tem grande repercussão na qualidade de vida.
Processos inflamatórios articulares ceifam a autonomia do indivíduo, gerando dificuldade de deslocamento e limitação funcional. Além disso, geram dor crônica, que está associada a uma incidência maior de transtornos depressivos e de ansiedade, bem como ao isolamento social.
Todos nós sonhamos chegar ao ponto da vida onde os compromissos diminuem, ainda capazes de caminhar pelas ruas de Lisboa, colocar a mala no compartimento acima do assento, e entrar e sair do carro sem auxílio. Se estamos acima do peso, a construção desse sonho deve começar imediatamente, pela perda de peso, pois a autonomia na terceira idade é inimiga do excesso de carga.
Façam esse recado chegar à quem precisa ouvir.
Um abraço,
Will
Obrigado Dr, você é um dos melhores médicos que eu já encontrei! 👏👏👏
Obrigada, por tanto, Dr Will. 🫡